terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Origin of Love

Dia desses sonhei com meu filho. Foi a primeira vez que sonhei com ele.

Foi na verdade mais uma cena isolada do que um sonho completo, com enredo desenvolvido e coisa e tal, mas foi tãaaaaoo bom! Não me lembro do rosto, da cor da sua pele, ou de qualquer atributo fisico de meu filho no sonho. Mas me lembro que já era grandinho, uns 5, 6 anos, e vestia claro.

Meu sonho se passava na sala da casa em que atualmente moro, uma casa que meu filho nunca conhecerá, mas isso não importa. O que importa é que havíamos acabado de chegar, pela primeira vez, em casa. Meu marido ligou o som, e uma música chamada Origin of Love, do Mika, começou a tocar. E nós dançávamos e ríamos e na hora do refrão eu apontava pra ele com as duas mãos e cantava a  letra, "you're the origin of love, love, love, you're the origin of love, love, love", e ele gargalhava. E eu acordei com essa sensação de ser feliz, de uma felicidade tão leve e gostosa. Eu acordei me sentindo plena.

E desde então essa música, que antes não me era nada especial, se tornou uma das minhas favoritas. Toda vez que a escuto, aquela sensação de ser feliz me enche o peito. A memória daquele sonho me vem na hora, trazendo consigo um gosto de plenitude que eu não sei bem como explicar. Mais uma dessas loucurinhas do processo de adoção.




terça-feira, 8 de novembro de 2016

Esperando, esperando.

Fiz esse blog para gestar meu filho. 
Ou a ideia do meu filho. 
Essa abstração que é a criança adotada, antes de ser adotada.

Penso que escrever talvez me ajude a acalmar o caos que me convulsiona o peito, esse emaranhado de expectativas e medos e ansiedades e desejos e frustrações e tempos de espera.

Minha primeira impressão é de que adotar é esperar. Você espera tanto, por tanto tempo, espera uma etapa, e depois outra,  e depois mais outra, e é sempre uma sucessão de esperas, de pequenos marcos que vão te deixando um passo mais perto de uma realização que nunca se sabe bem ao certo quando se concretizará. 

Tomei  - tomamos, eu  e mareeedo - a decisão de adotar em março de 2016. Em agosto demos entrada no processo junto ao juizado da infância e da juventude da nossa cidade natal. Em outubro fizemos a entrevista com o psicólogo especialista. E em novembro nossa casa foi visitada para avaliação. E agora estamos esperando as datas para o curso de preparação de pais adotantes.  Depois disso, mais espera. 

E enquanto vou esperando, vou imaginando meu filho.  Imagino que será menino (pelo simples fato de que há bem mais meninos aguardando adoção do que meninas. Mas se vier menina, será igualmente amada).  Imagino como será sua personalidade, quais serão os desafios que enfrentaremos. Imagino quais serão seus brinquedos favoritos, se vai gostar da escola, se vai ser muito tímido e se vai gostar de ervilha.

Meu filho tem milhares de nomes. Veja, eu não sei qual será seu nome. Adotantes não escolhem o nome de seus filhos.  Então cada hora me refiro a ele por um nome diferente. Às vezes é Rubinei, Jorileudes, e outras variações esdrúxulas. Às vezes é Bruno, Marcelo, Pedro. E, às vezes, é simplesmente Júnior. 

E é como estava falando com meus amigos mais próximos: Eu escolhi adotar uma criança que tenha entre três e cinco anos. Então é bastante possível que meu filho já exista. Meu filho já está por aí, existindo no mundo, eu só não o conheço ainda. E é tão doido pensar isso. Pensar que meu filho pode estar ainda em situação de risco, e eu não posso fazer nada por ele. É uma piração grande, se preocupar com alguém que você nem sabe quem é. Me pego tanto pensando nisso. Que coisa louca que é amar uma abstração, uma pessoa que por enquanto só existe no meu imaginário, no campo das minhas ideias, e que já é tão importante na construção da minha realidade. Atualmente tudo que faço reflete, em alguma medida, a espera por ele.